O filho pródigo caminha pela trilha. Seu cheiro de porco faz com que os transeuntes passem longe dele, mas ele não percebe. Com os olhos no chão, ele ensaia seu discurso, “Pai” - sua voz quase inaudível – “pequei contra o céu e contra ti. Não sou digno de ser chamado teu filho”.
Ele repete as frases se perguntando se deveria falar mais, menos ou fazer uma meia volta para o curral. Afinal, ele descontou o fundo e jogou o nome da família no lixo. No último ano ele acordou com mais garganta seca, dores de cabeça, mulheres e tatuagens do que um astro do rock. Como seu pai poderia perdoá-lo? Talvez eu pudesse oferecer para pagar os cartões de crédito. Ele está tão focado no planejamento da penitência que não consegue ouvir o som de seu pai... correndo!
O pai abraça o garoto coberto de lama como se ele fosse um herói de guerra voltando. Ele ordena aos empregados para trazerem uma túnica, anel e sandálias, como quem diz, “Nenhum garoto meu irá parecer com um cuidador de chiqueiro. Acendam a churrasqueira. Tragam as bebidas. É tempo de festa!”
Enquanto isso, o irmão mais velho fica amuado na varanda. “Ninguém nunca me deu uma festa”, ele murmura de braços cruzados.
O pai tenta explicar, mas o filho invejoso não escuta. Ele se sente ofendido, encolhe os ombros e resmunga algo sobre graça barata, sela seu cavalo e sai cavalgando. Mas você já sabia disso. Você leu a parábola do pai gracioso e do irmão hostil (veja Lucas 15:11-32).
Mas você ouviu o que aconteceu depois? Você leu o segundo capítulo? É fascinante. O irmão mais velho resolve arruinar o perdão. Se o Pai não vai exigir justiça do menino, eu vou.
“Bonita túnica, irmãozinho”, ele lhe diz um dia. “Melhor mantê-la limpo. Uma mancha e o Pai enviará você para a tinturaria com ela”.
O mais novo o dispensa, mas quando vê seu pai novamente, ele rapidamente verifica se sua túnica está manchada.
Alguns dias depois o irmão mais velho adverte sobre o anel. “Que jóia que o Pai deu para você. Ele prefere que você a use no polegar”.
“No polegar? Ele não me disse isso”.
“Algumas coisas nós simplesmente devemos saber”.
“Mas ele não vai caber no meu polegar”.
“Qual é o seu objetivo – agradar o nosso pai ou o seu conforto pessoal?” o monitor espiritual zomba, indo embora.
O irmão mais velho não acabou. Com a simpatia de um auditor da Receita Federal com má digestão, ele provoca, “Se o Pai o vir com os cadarços desamarrados, ele pegará as sandálias de volta”.
“Ele não pegará. Elas foram um presente. Ele não pegaria… pegaria? O ex-pródigo então se inclina para amarrar os cadarços. Enquanto ele amarra, ele vê uma mancha em sua túnica. Tentando esfregá-la até sair, ele percebe que o anel está em outro dedo, não no polegar. É quando ele ouve a voz de seu pai. “Oi, Filho”.
Ali o menino se senta, vestindo uma túnica manchada, cadarços desamarrados e um anel no lugar errado. Dominado pelo medo, ele responde com um “Desculpa, Pai”, vira-se e corre.
Muitos deveres. Manter a túnica sem mancha, o anel no lugar certo, as sandálias amarradas – quem poderia atender tais padrões? A preservação dos presentes começa a desgastar o jovem. Ele evita o pai que não consegue agradar. Ele deixa de usar os presentes que não consegue conservar. E ele ainda começa a sentir saudade dos dias mais simples do chiqueiro. “Ninguém me perseguia lá”.
Esse é o resto da história. Está se perguntando onde eu encontrei? Na página 1.892 da minha Bíblia, no livro de Gálatas. Graças a alguns irmãos mais velhos legalistas, os leitores de Paulo foram do recebimento da graça para a observância da lei.
“Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo” (Gálatas 1:6-7).
Ladrões de alegria também se infiltraram na igreja romana. Paulo teve que lembrá-los, “As pessoas são declaradas justas por causa de sua fé, não por causa de suas obras” (Romanos 4:5).
Os cristãos filipenses ouviram a mesma bobagem. Os irmãos mais velhos não estavam dizendo a eles para usarem o anel no polegar, mas estavam insistindo, “vocês precisam ser circuncidados para serem salvos” (Filipenses 3:2).
Até mesmo a igreja de Jerusalém, a principal congregação, ouviu a solene repetição do Conselho do Controle de Qualidade. Era dito aos crentes não judeus, “Se vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos” (Atos 15:1).
As igrejas sofriam do mesmo mal: bloqueio da graça. O Pai pode deixá-lo na porta, mas você deve merecer seu lugar à mesa. Deus efetua o pagamento para sua redenção, mas você paga as prestações mensais. O céu fornece a canoa, mas você deve remar se quiser ver a outra margem.
Suas obras não o salvam. E suas obras não o mantêm salvo. A graça o faz. Da próxima vez que o irmão mais velho começar a rosnar mais do que dobermans gêmeos, desamarre suas sandálias, coloque o anel em seu dedo e cite o apóstolo da graça que disse, “Pela graça de Deus, sou o que sou” (1 Coríntios 15:10).
Traduzido por Cynthia Almeida
Fonte: Max Lucado
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