terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Evangelho cresce na França através de Igrejas Evangélicas em tempos de crise-Veja

A cada dez dias uma nova igreja evangélica abre as portas no país europeu. Ao som de bateria e teclado, quatro cantores dão o tom do culto na  igreja, enquanto são acompanhados fervorosamente por fiéis que, com os braços erguidos, dançam e repetem as letras mostradas em um telão. 
A cena, comum para a maioria dos  brasileiros, é novidade na França, que viu a fé neopentecostal crescer  nos últimos anos, impulsionada pela crise econômica.
Na França, a cada dez dias uma nova igreja evangélica abre as portas,  de acordo com dados do CNEF (Conselho Nacional dos Evangélicos da França). Essa é a corrente religiosa que mais se expande no país e a com o maior número de praticantes.
“A primeira razão é simplesmente a necessidade de esperança”, opina  Sébastien Fath, sociólogo das religiões especializado no protestantismo e autor de Do gueto à rede – O protestantismo evangélico na França e do recém lançado Nova França Protestante – Desenvolvimento e crescimento no século XXI.
O contexto de crise, que atinge a sociedade francesa, tem por  consequência um certo número de patologias sociais, como a solidão. O  Estado não pode fazer tudo, as prestações sociais e capacidades de  intervenção são em geral fragilizadas, pois há menos dinheiro público. A igreja evangélica responde às necessidade que o Estado não se encarrega mais”, avalia o sociólogo, que enfatiza o caráter otimista do discurso evangélico, em um país onde o pessimismo é grande.
Embora o sociólogo defenda que haja fiéis também nas classes mais  favorecidas, ele admite que a religião vem atraindo proporcionalmente mais jovens e imigrantes, principalmente chineses, coreanos e  originários das antigas colônias francesas na África. Em dezembro, 24,2 % dos jovens estavam desempregados.
“Muitos franceses estão desencorajados diante da crise e da globalização. Há uma certa depressão e uma necessidade de perspectiva,”  diz Fath. Já para Étienne L’Hermenault, batista e presidente do CNEF, órgão criado há menos de dois anos, o sucesso das igrejas evangélicas é
reflexo de uma sede por religiosidade. “A crise não é simplesmente  financeira, mas também moral. Há um cansaço, de uma sociedade que perdeu muitas referências e que busca valores”, argumenta.
Fath defende que o retorno da religiosidade está ligado à crise do  discurso político. “Os franceses estão decepcionados com a política. O país que, durante muito tempo exportou pensamento político, se  desencantou com as soluções políticas, há 15 ou 20 anos atrás”, avalia.
Conversão
Longe do anonimato das ruas, nas manhãs de domingo na entrada da Église Réformée de Belleville a recepção é calorosa e personalizada. “É a proximidade entre nós, os pastores, e nossos fiéis que faz a força do  movimento evangélico”, afirma Amos Ngoua Mouri, pastor da Communauté Évangélique la Bonne Nouvelle, no norte de Paris.
Mais da metade dos evangélicos franceses tinha outra religião. “Essas igrejas se apresentam de uma maneira adaptada às formas de comunicaçãocontemporânea, enquanto as tradicionais utilizam ainda modelos  históricos e ultrapassados. As evangélicas recrutam”, explica Frédéric Rognon, professor de filosofia das religiões na Faculdade de Teologia  Protestante de Estrasburgo, na França.
L’Hermenault, também presidente da Faculdade Livre de Teologia  Evangélica de Vaux sur Seine, principal instituição para a formação de  novos pastores franceses, anuncia que o objetivo é alcançar a meta de  uma igreja para cada 10 mil habitantes, ao invés dos atuais uma para cada 30mil.
Ao todo, são 2308 igrejas em território francês, que abrigam o ainda  discreto número de 600 mil evangélicos. Desde 1950, eles são nove vezes mais numerosos, em um país onde apenas 5% da população se declara  praticante de alguma religião.
Fé pública, questão privada
Na igreja evangélica Paris Bastille é possível ver os vídeos do último  culto no iPhone e acompanhar o blog do pastor. Outros atrativos são as
visitas em casa, os grupos de estudo e as atividades de inserção  específicas para jovens, crianças, mães, casais ou idosos. À vontade com a revolução digital, para Fath, esse estilo litúrgico é mais adaptado à cultura dos jovens que a tradicional missa católica.
“O lado da expressão pública da fé dos evangélicos, quase publicitário, choca numa cultura francesa que relega a religião ao domínio privado”, afirma, garantindo que as coisas estão mudando no país da laicidade. O  pastor camaronês Mouri confirma que o movimento evangélico é mais reconhecido no espaço público, embora ainda seja uma minoria.
A presença dos mulçumanos teria sido a primeira abertura para a  naturalização da expressão religiosa em lugares públicos. “Há um retorno da visibilidade da fé mesmo entre os católicos.  A procissão do 15 de  agosto em Paris pela ‘Ascenção da Virgem’ é um dos exemplos disso. Algo que não poderíamos imaginar, há 20 anos atrás”, cita.
Cenas de um culto na Igreja evangélica de Montreuil CCPE, leste de Paris:
Missionários latinos
Pastores brasileiros têm cruzado o oceano para conquistar essa nova  terra. “Nós sabemos que hoje a rede evangélica é transnacional. Há uma presença brasileira de protestantes na França. A Igreja Universal do  Reino de Deus foi fundada em Paris já há alguns anos e também outras igrejas neopentecostais”, afirma mesmo sem poder contabilizar esse  fluxo.
“Não é comparável com a ligação que existe com a América do Norte, mas  isso deve se desenvolver”, dizem. Para eles, missionários latinos têm boa reputação entre os franceses, além de brasileiros, pastores  espanhóis e portugueses também são populares, como Nuno Pedro, português que faz cultos para oito mil pessoas todos os domingos na megachurch Charisma, em Saint-Denis, periferia de Paris.

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