Quando o governo de Camarões ordenou o fechamento de dezenas de igrejas mês passado, muitos apontaram para mais um caso de perseguição religiosa no continente africano. Mas a iniciativa se estendeu e agora é anunciada como “uma tentativa de pôr fim à anarquia das organizações cristãs”.
A medida drástica começou em meados de agosto, tendo como alvo principal as igrejas pentecostais, que não são oficialmente reconhecidas. O grande diferencial é que não se trata de um país muçulmano, mas de maioria católica. Mesmo assim, as igrejas são fechadas à força, muitas vezes por soldados do exército.
O ministro das Comunicações, Issa Tchiroma Bakary, disse em uma entrevista coletiva justificou que essas igrejas promoviam práticas “negativas, insalubres e indecentes”, contrárias ao “objetivo do crescimento espiritual das pessoas”. Também denunciou “os casos óbvios de extorsão de pessoas em situação desesperada”, os “repetidos tumultos noturnos” e o “proselitismo agressivo”.
Anunciou que o governo não poderia ficar indiferente, pois “as autoridades administrativas são responsáveis pela preservação da ordem pública, por isso teve que assumir essa responsabilidade”.
Em menos de 30 dias, no total foram fechadas 35 igrejas em todo o país, incluindo um templo da Igreja Universal do Reino de Deus em Douala. E não deve parar por ai. O pastor Naida Lazare, presidente da Christian Media Network dos Camarões, diz que várias dessas igrejas esperavam a autorização do governo para operar há mais de 10 anos, mas nunca obtiveram uma resposta oficial.
No Camarões, cerca de 57% dos seus 20 milhões de habitantes se declara cristão, a imensa maioria são católicos; os pentecostais são menos de 5%. Por outro lado, muçulmanos são 20%. A liberdade de culto e de religião é garantida pela Constituição, mas há uma exigência de regulamentação das organizações religiosas que operam no país, passando pela aprovação do ministro da Administração Interna e autorização do presidente.
Os problemas começaram no final da década de 1990, quando missionários da vizinha Nigéria, abriram centenas de igrejas pentecostais, experimentando um crescimento explosivo no país, cerca de 10% ao ano.
Essa rápida ascensão fez a liderança da Igreja Católica pressionar o governo. Oficialmente, apenas 47 licenças foram concedidas a novas igrejas, nos últimos 20 anos. Estima-se que existam cerca de 500 organizações evangélicas operando em todo o país.
O porta-voz do governo, Issa Tchiroma Bakary, afirmou que a polêmica campanha tem como alvo fechar centenas de entidades religiosas, fazendo uma “limpeza profunda” no país. Ele diz que o governo tem ciência de que “algumas pessoas morreram ao serem exorcizadas” e que os pastores realizam “práticas criminosas”, como tirar dinheiro de pessoas pobres e prometer milagres. Mbu Anthony Lang, funcionário do governo, asseverou: “Prometemos que vamos nos livrar de todos os pastores pentecostais que fazem mau uso do nome de Jesus Cristo, prometendo falsos milagres que matam cidadãos em suas igrejas”.
O Bispo Dieudonné Abogo, presidente da União Pentecostal de Camarões, diz concordar apenas que algumas igrejas sejam barulhentas. “O uso de música alta durante os cultos podem causar perturbação para os moradores de algumas áreas”, lamenta. ”Isso causa um grande dano à reputação das igrejas reconhecidas oficialmente”.
As autoridades locais agem rapidamente para fechar os templos quando surgem muitas queixas de moradores vizinhos. Abogo diz que órgãos cristãos desejam trabalhar com o governo para encontrarem uma solução. Existem, contudo, protestos crescentes de que o direito dos cidadãos de liberdade de culto está sendo desrespeitado. Lideranças pentecostais estão convocando campanhas de oração e até marchas para protestar. Com informações de Charisma News, Africa Review, Info-Evangelique e CNN.
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