quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Estudo registra queda no número de católicos no Brasil e especialistas apontam motivos

Estudo registra queda no número de católicos no Brasil e especialistas apontam motivos
Uma pesquisa feita pelo Centro de Políticas Sociais da Faculdade Getúlio Vargas mostra os números da crescente perda de fiéis que a Igreja Católica vem sofrendo no Brasil. O estudo aponta que essa queda começou há 140 anos, porém nas últimas décadas esse número tem aumentado bastante.
Em 1872, a quantidade de católicos no Brasil era de 99,7% da população, muito por influência da colonização portuguesa. Hoje os brasileiros que se declaram católicos são 68,4% da população brasileira. O economista Marcelo Neri, que liderou a pesquisa, analisou também os dados da “Pesquisa de Orçamentos Familiares” (POF), do IBGE e concluiu que o número de fiéis que seguem a Igreja Católica é o menor de todos os tempos. Em alguns Estados brasileiros, o número de católicos já é menor que a metade da população.
Segundo a revista ISTOÉ, alguns especialistas em religião listaram os sete pecados capitais da Igreja Católica, que resultaram nesse afastamento dos fieis.
1 – Rituais e Doutrinas
Os costumes brasileiros vem mudando ao longo do tempo, e qualquer tipo de imposição, seja de regras, ritos e obrigações acaba afastando os fieis, que estão cada vez mais independentes. O Mestre em Ciências da Religião, Jung Mo Sung, da Universidade Metodista de São Paulo, afirma que parte disso é responsabilidade do Papa: “Bento XVI prefere uma Igreja menor e mais atuante em vez de uma maior sem atuação coerente e consistente”. O resultado dessa estratégia é a redução visível dos católicos no país. “A estratégia fortalece o fervor de uma minoria praticante, mas traz uma consequência não intencional da perda de adesão de católicos difusos”, afirma Sung.
2 – Comércio na Igreja
Segundo os estudiosos, cada vez mais as pessoas veem a Igreja como um local em que se procuram ícones, como se fossem produtos. Para muitos, as igrejas tem servido apenas como local de eventos, por sua simbologia e arquitetura. Casamentos, missas de sétimo dia e quermesses, são alguns exemplos citados. O Padre José João da Silva, da paróquia São José Operário, em Itaquera, São Paulo, reclama: “Vivemos uma igreja fast-food”. Nos casamentos, os ritos da Igreja de Roma não são tão respeitados como antigamente. “Há casais que trazem o CD da novela que faz sucesso para tocar na cerimônia. Se você se nega, alguns inconformados batem boca com você, viram as costas e procuram quem o faça”, lamenta Silva.
Um outro fator ligado à transformação da Igreja Católica em supermercado está ligado ao fato de como as pessoas estão vendo a religião. “Muita gente traz seu carro recém-comprado para ser benzido e vai embora. Poucos rezam ou participam de uma missa”, conta o Padre João Carlos Almeida, teólogo e diretor da Faculdade Dehoniana (SP), que foi vigário paroquial no Santuário São Judas Tadeu, em São Paulo.
3 – Mulheres abandonando o catolicismo
Segundo a Pesquisa da FGV, apenas no catolicismo as mulheres são minoria. Em todas as outras 25 religiões pesquisadas, as mulheres são maior número em relação aos homens. Entre evangélicos, budistas, espíritas e religiões afro, fora as crenças menores, a quantidade de homens é menor que o das mulheres. Entre os motivos para esse desprezo feminino, estão assuntos diretamente ligados a elas, como por exemplo, os métodos contraceptivos, o divórcio e o aborto, que são proibidos pela Igreja Católica. O teólogo Jorge Cláudio Ribeiro, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), afirma que a Igreja Católica não gosta da mulher: “Ao que parece, elas, mal-amadas que são pela Igreja, estão se autorizando a não gostar da religião, a reagir”.
4 – Pedofilia
As constantes denúncias de Padres que abusam sexualmente de crianças, tanto no Brasil quanto no mundo, e a falta de medidas mais rígidas por parte dos líderes católicos, são mal vistas pela população, e principalmente pelos católicos não praticantes. Jung Mo Sung afirma que perante esses escândalos, “o militante não terá sua fé abalada. Mas os que se sentiam católicos por uma afinidade de infância ou inspirados em alguma figura pública podem ter deixado de ser por causa desses fatos”.
E o fato de a Igreja Católica tratar esse assunto de forma sigilosa, só piora a impressão do público. Segundo a socióloga da religião Brenda Carranza, da PUC de Campinas, a Igreja Católica “trabalhou a questão na base do segredo e do corporativismo. A lógica interna de uma instituição que se protege e não ventila o problema levou a ampliar o fenômeno, tornando-o uma sensação nos meios de comunicação”.
5 – Faltam líderes inspiradores
Os católicos sentem falta de líderes que atuem socialmente, transformando o caos, aponta a pesquisa. Líderes católicos como Dom Helder Câmara, que foi quatro vezes indicado ao Prêmio Nobel da Paz, atuavam de forma significativa junto à sociedade. Atualmente, os grandes líderes católicos no Brasil são padres cantores, o que não inspira muita gente: “Numa sociedade moderna, em que a adesão à religião acontece por opção pessoal, é preciso que haja nomes admirados publicamente”, afirma Jung Mo Sung.
6 – Dificuldade de Comunicação.
Nos tempos atuais, em que o tempo é curto para todos, a comunicação centralizada da Igreja Católica dificulta a modernização da forma como ela fala com seus fieis. Não há um direcionamento para que Padres ou grandes líderes católicos trabalhem com as novas mídias sociais, a fim de alcançar os jovens, e isso dificulta a expansão da religião. Alguns padres que por conta própria trabalham com essas ferramentas tem obtido sucesso, pois o jovem que se identifica com uma instituição passa a segui-la, independentemente da presença física. Segundo a socióloga da religião, Brenda Carranza, “não é mais possível seguir com a ideia de que o fiel se encontra na paróquia”.
7 – Falta de Identidade Social
Antigamente, um dos meios que os jovens buscavam relacionamentos era a igreja. Os costumes religiosos eram um dos quesitos observados pelas famílias e contavam a favor de um pretendente que ia à missa. Muitos assumiam a religião de batismo, mesmo que não praticasse, como forma de se inserir socialmente.
Com o passar do tempo, esses hábitos sociais deixaram de ser tão fortes, e isso possibilitou que muitos jovens que assumiriam a religião apenas por conveniências, passassem a não mais fazer isso. Segundo Brenda Carranza, o catolicismo “era o imenso guarda-chuva cultural e religioso que permitia o trânsito espiritual”. Com a secularização da sociedade, algumas atitudes perderam sentido, e pessoas que não praticam a religião, não se sentem mais obrigadas a adotar uma, aponta a pesquisa.
Fonte: Gospel+

 


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